DESVENTURAS
PAULISTANAS
Luciene
Barreto gosta de ferrar com minha cara, só pode! Desta vez ela foi além do
além. O hotel em que ela nos colocou, em São Paulo, mais parece um filme de
terror. “Na foto do site estava tudo certo, você é que é luxenta”, irá me dizer
a energúmena. O hotel não tem cara de hotel e nem placa. A dona veio me atender
pessoalmente e já fiquei com medo dela, só pelo nome: Braulina. Pensei logo:
tem fantasma nessa coisa, mas relaxei, pois não acredito em fantasma. Só tenho
medo...
Estranhei
porque Dona Braulina não me deu o cartão magnético para entrar no meu quarto.
Toda gentil, ela me acompanhou até o magnânimo aposento e me mostrou a chave e
o modo de operá-la. Tem modo de operar chave, Dona Braulina? A danada da porta
não abria. Eu perguntei: Será que é essa mesmo? E ela: “É sim, mas tem que ter
um jeitinho, viu? O jetinho era, digamos, “simples”: Empurra, puxa, aperta,
bate e depois, plim, gira a chave. Sabe portão de casa? É mais ou menos assim.
Só que aqui é mais difícil, pois o trinco está solto... Quando eu morava em
casa, resolvia logo esse problema usando uma faca como trinco, mas não tenho
faca aqui. Tenho que empurrar o danado, ao mesmo tempo em que puxo e aperto a
chave, para, só então, girá-la. Fora que tenho que segurar a porta por baixo,
com meu pezinho...
Mas isso não
foi o pior. O ventilador (ou você imaginou que split? Refrigeração central?
Vai...) precisa de uma ajudinha para pegar. Eu ligo na tomada e giro a hélice
manualmente até ele pegar no tranco. E sabe o frigobar? Não tem! Mas tem um
quadrado branco de madeira onde estou colocando os itens para consumo. O
ambiente do closet se compõe de um distinto sapateiro e um guarda-roupa que cheira
a uma mistura de naftalina, mofo e sândalo. Mas o banheiro é a atração
principal. Sabe o box? Também não tem, é uma cortina que já está prá lá de
rasgada e faltando os buraquinhos. A descarga é só um pitoco velho na parede e
a instalação elétrica é algo de cinema. Terror, claro. Ao menos uma boa
noticia: temos água quente e fios expostos de todas as cores para nos distrair
enquanto curtimos uma deliciosa “ducha”. E a tampa do vaso sanitário é
transparente, porque eu mesma só senti a bunda gelada na louça fria. Bunda
gelada na louça fria até dá uma crônica...
São quatro
camas no quarto (vou dormir duas horas em cada uma, para animar), sendo que
duas fazem parte de um beliche, coisa que eu não via desde mil setecentos e
Oscar Niemeyer. As toalhas são felpudas (felpo de bode do sertão) e os lençóis
são tão finos que eu achei que era tule. Ainda bem que tem uma manta quentinha
e desfiadinha para eu me proteger do frio. Ao menos não tem muriçoca! Os
lustres e luminárias são da marca Bocal, Spot e Fio Solto, tudo muito distinto
e elegante.
Há energia e
tenho o que comemorar. Porém, faltam-me tomadas. Na única tomada deste suntuoso
ambiente, eu revezo carregador do celular, do computador e o ventilador cansado
de guerra. A decisão é minha: se eu quiser computador, tenho que ficar no
calor. Se eu quiser o fresquinho, não posso trabalhar. Amanhã mesmo vou comprar
um kit T, extensão, benjamim, querubim e todos os santos. Quando Luciene chegar
amanhã e quiser carregar o celular dela, vou me vingar com força! Ah,
feladagaita!
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