19 de mar. de 2014

A excrescência da felicidade

Não é um avestruz. Este é o meu bucho de estimação, composto por farto tecido adiposo e pele que se excedeu em duas gestações e do passar dos anos, que faz sobrar coisas aqui e faltar outras ali. Na verdade, o bucho não é de estimação porque não o estimo. Chamemos de barriga positiva essa protuberância conquistada com brindes e sorrisos; uma vez que não me alimento na tristeza, apenas na alegria. Como agora eu quero brindar e sorrir sem ela, peço-vos a gentileza de não mais caçoar de minha pessoa quando eu vos falar da necessidade da dieta. Sim, eu sei: e da atividade física.

Quando quer me alertar sobre alguma proeminência, o eufemista Renato diz que estou ficando opulenta. Como fui educada nos Alpes do Araripe, não digo que opulenta é a senhora mãe dele, tampouco a rapariga véa. Não me utilizo desse chulo linguajar. Retruco apenas dizendo: isso é a excrescência da felicidade.

Quando estou toda esticadinha (em pé ou deitada), o bucho some. É uma mágica que nem Mister M explica! Se eu prender a respiração, ele também se ajeita no meio dos “músculos”, mas os peitos sobrem. Tem gente que prende tanto a respiração para tirar uma foto que sai com cara de pombo. Eu não faço apneia por muito tempo, daí a minha arretância com alguns fotógrafos que passam mais de 20 segundos para fazer um clique. Pelo bem das pombas (lesas), sejam mais rápidos!

Minha barriga é temperamental. Se eu apertá-la, ela se invoca e pula para fora da calça, quase cobrindo o cinto. Para usar um vestido de festa, conto com a tecnologia revolucionária dos Macaquinhos Yoga ou da bermuda Dr. Ray Shapeware. Só quem usa aquilo sabe quão difícil é entrar em três números a menos que o seu. Fica tudo tão apertado que mal conseguimos respirar direito. Fora o complexo de Bento, que é ficar fechada com um flato dentro. Lógico que a gente não se diverte apertada assim. E lógico que é melhor deixar as banhas livres e dançar impunemente. Mas também é bom não ter bucho.

Dito tudo isto, encontro-me em contenção de refeições e o consequente racionamento de alegrias. Preciso caber no vestido. Não me provoquem, não me tentem, vão aperrear o trem. Em vez disso, chamem-me para caminhar. Espero que compreendam algum mau-humor, alguma nova insanidade postada nas redes sociais. É tudo fome. É tudo fome mesmo. Além, claro, da TP4, a crise pré-40.

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